Onde buscar ajuda em saúde mental para crianças e adolescentes no Sistema Único de Saúde (SUS)?
Como funciona o sistema público de saúde mental no Brasil?
O Sistema Único de Saúde (SUS) funciona em rede, para que cada pessoa receba o cuidado que precisa. Na saúde mental de crianças e adolescentes, o primeiro lugar para procurar ajuda é a Atenção Primária à Saúde (APS) – Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Estratégia de Saúde da Família (ESF) – do lugar onde você mora. Lá, é onde serviços básicos de saúde são oferecidos, ou seja, é onde os profissionais podem ouvir as famílias, avaliar sinais de sofrimento emocional ou mudanças no comportamento e orientar o que fazer a seguir.
Quando é necessário, a APS pode encaminhar para serviços especializados, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ambulatórios ou policlínicas, onde há equipes treinadas para oferecer cuidados mais especializados em saúde mental.
Em casos de urgência, como risco de suicídio ou crises muito graves, o atendimento pode ser feito diretamente em um CAPS, em Unidades de Pronto Atendimento (UPA) ou chamando a SAMU (192).
O atendimento para saúde mental de crianças e adolescentes é igual em todo o Brasil?
Não. O Brasil, por ser um país de dimensões continentais, tem muitas diferenças regionais. Isso faz com que a oferta de serviços em saúde mental e os caminhos para acessá-los variem bastante de uma cidade para outra. Em alguns municípios, é possível procurar diretamente os CAPS; já em outros, a porta de entrada é apenas a Atenção Primária. Por isso, é fundamental confirmar, no seu município, onde buscar ajuda primeiro. Vamos entender um pouco mais!
Por onde começar?
O primeiro passo, na maioria das vezes, é procurar a Atenção Primária à Saúde, ou seja, a Unidade Básica de Saúde ou Estratégia de Saúde da Família da sua região de moradia. As unidades de Atenção Primária estão presentes em praticamente todos os lugares do Brasil e costumam ser distribuídas por bairros e comunidades, para facilitar o acesso das famílias. É nelas que os cuidadores podem buscar ajuda quando há dúvidas ou preocupações sobre o comportamento, as emoções ou o desenvolvimento de crianças e adolescentes do seu convívio. Nas unidades de Atenção Primária, uma equipe formada por diferentes profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, poderá escutar, avaliar a situação e oferecer apoio. Algumas vezes o atendimento pode acontecer ali mesmo; em outras, os profissionais organizam o encaminhamento para serviços especializados em saúde mental.
Quais são os serviços especializados em saúde mental de crianças e adolescentes?
Além das unidades de APS, que costumam ser o primeiro lugar de procura, existem serviços especializados para quando o cuidado em saúde mental precisa ser mais intensivo. O principal deles são os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que são serviços de saúde comunitários e multiprofissionais que oferecem assistência a pessoas que precisam de suporte psicossocial, os quais existem diversos tipos.
Por exemplo, os CAPS Infanto-Juvenis (CAPSij) são voltados especificamente para crianças e adolescentes que estejam com sofrimento decorrente de problemas mentais graves e persistentes, que precisam de cuidado mais intensivo. Esses centros podem contar com equipes multiprofissionais, como psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e enfermeiros, e costumam oferecer atendimentos individuais, em grupo, atividades terapêuticas e suporte às famílias. Em alguns municípios, é possível procurar o CAPSij diretamente; em outros, o acesso acontece por meio de encaminhamento feito pela APS.
A presença e o tipo de CAPS em cada cidade dependem do número de habitantes e da forma como a rede de saúde local está organizada. Em alguns municípios maiores, pode existir um CAPS Infanto-Juvenil (CAPSij), voltado exclusivamente para crianças e adolescentes. Já em cidades menores, onde a população é menor, muitas vezes o atendimento acontece em CAPS do tipo I ou II, que recebem todas as faixas etárias em um mesmo serviço, não sendo exclusivos para o público infanto-juvenil. Além disso, podem existir os CAPS AD (Álcool e Drogas), destinados especificamente a pessoas, inclusive adolescentes, que enfrentam problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
Além dos CAPS, alguns municípios oferecem recursos que complementam a rede de saúde mental. As Equipes Multiprofissionais de Saúde Mental (EMAESMs) atuam em condições de saúde mental mais comuns e de gravidade moderada, oferecendo acompanhamento contínuo e apoio às famílias. Além disso, alguns municípios contam com policlínicas, que funcionam como centros de especialidades médicas. Nesses locais, podem existir profissionais voltados à saúde mental da infância e adolescência, o que facilita o cuidado quando a criança ou o adolescente precisa ser acompanhado por diferentes especialistas no mesmo espaço, de forma integrada.
Nas cidades maiores, especialmente aqueles com Hospitais Universitários, podem existir ambulatórios especializados em saúde mental da infância e da adolescência, que podem focar em temas específicos como por exemplo, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtornos Alimentares, ansiedade e depressão.
Já para crianças e adolescentes com problemas de desenvolvimento, como atraso global ou transtorno do espectro autista, algumas cidades contam com os Centros Especializados em Reabilitação Intelectual. Nesses locais, além do acompanhamento médico e psicológico, é comum haver atendimento multiprofissional com fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. O acesso a esses centros geralmente acontece por encaminhamento da APS ou de outro ponto da rede especializada.
Apesar de não estarem presentes em todos os municípios, serviços como os listados aqui formam uma rede que busca garantir que cada criança ou adolescente receba o cuidado mais adequado para sua situação, em diálogo constante com suas famílias.
E se for uma emergência?
Em situações de crise ou emergências em saúde mental de crianças e adolescentes, como risco de suicídio, agitação grave ou quando há risco de a criança ou adolescente machucar a si mesma ou a outras pessoas, o atendimento deve ser imediato. Nesses casos, a ajuda pode ser buscada diretamente nos CAPS (quando disponíveis no município), nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ou pela SAMU (telefone 192), que oferece atendimento de urgência e pode realizar o transporte até o serviço de saúde mais adequado.
Onde encontrar informações confiáveis sobre os serviços disponíveis na minha cidade?
A melhor forma de saber como funciona na sua cidade é procurar a Secretaria Municipal de Saúde ou a unidade de Atenção Primária do seu lugar de moradia. Essas instituições conseguem informar quais serviços existem, como acessá-los e quais são os fluxos de atendimento adotados no município.
Lembre-se que os serviços e os profissionais do SUS estão disponíveis para oferecer o suporte necessário, e que cuidar da saúde mental de crianças e adolescentes pode ser desafiador, mas o sistema público brasileiro oferece caminhos para que ninguém precise enfrentar essas situações sem apoio.